Em 2009, ele foi o grande homenageado do evento Yoga Pela Paz.
Leia abaixo reportagem sobre o professor publicada na edição 8 da revista Prana Yoga Journal de agosto de 2007:
por Renata Reif
Professor de Yoga há mais de 50 anos, ele é fundador do Instituto de Cultura Yoga Shimada, em São Paulo e considerado um dos introdutores da Yogaterapia no Brasil. Shimada, que foi também responsável pela aplicação dos ensinamentos do Yoga no esporte, revela com simplicidade a sabedoria que adquiriu ao longo da vida como lutador de judô e professor de Yoga. Ele dá aula há 45 de seus 78 anos, é professor de três gerações de uma mesma família e esclarece que Yoga não é uma aula de competição – a execução das posturas é feita para estabilizar a mente, ter conforto no esforço.
São 50 anos de prática. Como foi o seu primeiro contato com o Yoga?
Há 50 anos ninguém falava de Yoga. Comecei a praticar porque treinava judô. Eu li em um livro chamado Yoga, a Ciência da Respiração que a prática desenvolvia faculdades mentais pela autodeterminação e aumento da concentração por meio da respiração. Usei os princípios e constatei que fez muito efeito, inclusive fui campeão em 52, 53 e 54 do Campeonato Paulista de Judô. Aí me interessei por Yoga e comecei a praticar. Naquele tempo, o Yoga era visto como faquirismo, não tinha a explicação abrangente de que o Yoga é uma ciência, um sistema, entende? Aparecia uma porção de jejuadores na Avenida São João, que ficava dentro de caixas de vidro por dois, três dias sem contato com o mundo exterior. Era visto como faquirismo porque realmente o Yoga desenvolve certos poderes. Com o mínimo de respiração e oxigênio, poderes mentais desenvolvem o poder do corpo físico. Porque tudo é fruto do poder da mente. Sempre achei que Yoga era uma ciência, um sistema. Estudei, fiz o curso de Anatomia, Fisiologia e Patologia pela Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp) em 1958 e no dia 19 de abril do mesmo ano, eu abri o Instituto. Mas no começo, não podia falar Yoga porque todo mundo achava que se fizesse ficaria biruta. Porque na revista Cruzeiro aparecia gente com um punhal atravessando o pescoço. Não falava em Yoga, falava em ciência da respiração. Aí, pouco a pouco, começou a haver literatura, mais divulgação.
Quais são as motivações de um praticante para construir o alicerce da prática?
A base? Agora, com a comprovação científica, ficou claro que tudo está na cabeça, na mente, no pensamento da pessoa. Por isso se diz, você é aquilo que você pensa. Querendo ou não, quando você pensa, há uma reação nos neurônios. O sistema nervoso é responsável pelo comando do corpo. Então o alicerce fundamental é mudar a maneira de pensar. Se eu estou pensando de maneira agradável, porque tive uma notícia agradável, a mente está confortável, então tudo no sistema nervoso está estável. Mas se você recebe uma notícia desagradável, a mente começa a perturbar e o corpo começa a causar tensão. Tudo está na cabeça, na mente da pessoa. O desenvolvimento da mente se faz pela da prática do Yoga. É preciso treinar a mente para não ser contaminado. O que perturba não é a coisa em si, mas a reação ao fato exterior. A transformação está no interior do homem, que é o centro do universo, por isso, se você muda, o universo todo muda.
Como não cair nos truques da mente?
Nas ciladas, né? É preciso vigiar a mente, o que eu estou pensando? É possível identificar o que se pensa e aí você muda. Se não houver essa vigia, essa consciência, você está sendo contaminado. Mas agora se observa que está sendo contaminado, pode mudar o pensamento. Há certos momentos que não há por onde escapar, em certas situações. Procure diminuir porque senão aquele estado de associação vai crescendo cada vez mais. Se não há condições de sair da situação, procure não se revoltar. Porque cada vez que se revolta, fica mais contaminado. Então, procure aceitar e pouco a pouco, mudar, vigiar a mente, o pensamento. É uma coisa fácil, não há necessidade de se retirar, se isolar.
É importante seguir um único mestre?
Hoje, nesse mundo de globalização, encontrar um mestre é a coisa mais difícil. Não é um erudito, que sabe falar, mas não vive aquilo. Na atual situação do país, todo mundo fala bonito, mas está uma desordem danada! Existe um ditado: não se pode servir dois senhores, tem de servir um único senhor. Se você servir os dois, vai entrar em conflito. Existe dualidade; ou é isso ou é aquilo, certo? Pode ser um mestre que ensina apenas as coisas simples. Porque a verdadeira transmissão não vem da palavra, vem da freqüência da pessoa, da vibração. Cachorro e criança pequena sabem muito bem qual a intenção da pessoa.
Acredita em samadhi (iluminação)?
Todos nós somos muito imediatistas. Muitas pessoas que começam a praticar já querem atingir o samadhi, mas não há necessidade, nem condição de atingir esse estado de iluminação. Se você está insatisfeito, revoltado, irado, se você começa a sentir que está melhor, mais contente consigo, em sintonia coma natureza, já é um bom começo. Ao querer alcançar o ápice das coisas, você pode cair. É uma mudança que você vai fazendo, não só na hora da aula, mas 24 horas por dia. Esse é o ponto fundamental. Existem princípios segundo o Sutra de Patañjali, em que o asana (postura) vai aliviar o estado de tensão. É preciso trabalhar a mente, diminuir o estado de ira. Se você faz a postura, mas por dentro está revoltado, o asana ajuda, mas quando sair da postura, aí a coisa pega! Toda a prática de Yoga é espiritual: yamas (controle), niyamas (observância), asanas (postura), pranayama (técnicas respiratórias), pratyahara (abstração), dharana (concentração), dhyana (meditação) e samadhi. Tudo é uma mudança da mente. Integrar com a natureza e não dominar a natureza, o outro ser. É preciso tomar consciência e devastar menos.
O senhor é vegetariano?
Não sou muito de comer carne, mas se sou convidado para um churrasco, eu como. A pessoa tem de fazer uma comida especial para mim? É muito desagradável! Espiritual é relativo. Porque tem muita gente que come carne e tem bondade. Tem muito vegetariano aí que não tem bondade, porque a revolta não está fora, está dentro de si. Por exemplo, os esquimós têm de comer gordura. Cada país tem um tipo de alimentação. A verdadeira feijoada não é a que se come hoje e sim feita de joelho, rabo, orelha e língua, o mocotó. Hoje, se coloca paio, lingüiça, está tudo distorcido.
Como é o Yoga de hoje?
Hoje tem mais professores do que alunos. São muitas práticas e as pessoas não mais praticam como verdadeira tradição. Começam a inventar Light Yoga, Power Yoga, não sei o que lá Yoga, quando o Yoga é um só. Não tem essa divisão. Nós seguimos uma tradição do Kaivalyadhama, centro de pesquisa que existe na Índia desde 1924, em que todas as práticas e orientações são comprovadas cientificamente que têm efeito. Antes ligavam perguntando: “Professor, qual o horário da aula?”. Hoje ligam querendo saber que estilo que ensinam aí. Veja só!
Fonte: www.eyoga.com.br
Fotografia: capa do livro A Ioga do Mestre e do Aprendiz, de Shimada, editora Phorte.
Leia abaixo reportagem sobre o professor publicada na edição 8 da revista Prana Yoga Journal de agosto de 2007:
por Renata Reif
Professor de Yoga há mais de 50 anos, ele é fundador do Instituto de Cultura Yoga Shimada, em São Paulo e considerado um dos introdutores da Yogaterapia no Brasil. Shimada, que foi também responsável pela aplicação dos ensinamentos do Yoga no esporte, revela com simplicidade a sabedoria que adquiriu ao longo da vida como lutador de judô e professor de Yoga. Ele dá aula há 45 de seus 78 anos, é professor de três gerações de uma mesma família e esclarece que Yoga não é uma aula de competição – a execução das posturas é feita para estabilizar a mente, ter conforto no esforço.
São 50 anos de prática. Como foi o seu primeiro contato com o Yoga?
Há 50 anos ninguém falava de Yoga. Comecei a praticar porque treinava judô. Eu li em um livro chamado Yoga, a Ciência da Respiração que a prática desenvolvia faculdades mentais pela autodeterminação e aumento da concentração por meio da respiração. Usei os princípios e constatei que fez muito efeito, inclusive fui campeão em 52, 53 e 54 do Campeonato Paulista de Judô. Aí me interessei por Yoga e comecei a praticar. Naquele tempo, o Yoga era visto como faquirismo, não tinha a explicação abrangente de que o Yoga é uma ciência, um sistema, entende? Aparecia uma porção de jejuadores na Avenida São João, que ficava dentro de caixas de vidro por dois, três dias sem contato com o mundo exterior. Era visto como faquirismo porque realmente o Yoga desenvolve certos poderes. Com o mínimo de respiração e oxigênio, poderes mentais desenvolvem o poder do corpo físico. Porque tudo é fruto do poder da mente. Sempre achei que Yoga era uma ciência, um sistema. Estudei, fiz o curso de Anatomia, Fisiologia e Patologia pela Escola Paulista de Medicina (atual Unifesp) em 1958 e no dia 19 de abril do mesmo ano, eu abri o Instituto. Mas no começo, não podia falar Yoga porque todo mundo achava que se fizesse ficaria biruta. Porque na revista Cruzeiro aparecia gente com um punhal atravessando o pescoço. Não falava em Yoga, falava em ciência da respiração. Aí, pouco a pouco, começou a haver literatura, mais divulgação.
Quais são as motivações de um praticante para construir o alicerce da prática?
A base? Agora, com a comprovação científica, ficou claro que tudo está na cabeça, na mente, no pensamento da pessoa. Por isso se diz, você é aquilo que você pensa. Querendo ou não, quando você pensa, há uma reação nos neurônios. O sistema nervoso é responsável pelo comando do corpo. Então o alicerce fundamental é mudar a maneira de pensar. Se eu estou pensando de maneira agradável, porque tive uma notícia agradável, a mente está confortável, então tudo no sistema nervoso está estável. Mas se você recebe uma notícia desagradável, a mente começa a perturbar e o corpo começa a causar tensão. Tudo está na cabeça, na mente da pessoa. O desenvolvimento da mente se faz pela da prática do Yoga. É preciso treinar a mente para não ser contaminado. O que perturba não é a coisa em si, mas a reação ao fato exterior. A transformação está no interior do homem, que é o centro do universo, por isso, se você muda, o universo todo muda.
Como não cair nos truques da mente?
Nas ciladas, né? É preciso vigiar a mente, o que eu estou pensando? É possível identificar o que se pensa e aí você muda. Se não houver essa vigia, essa consciência, você está sendo contaminado. Mas agora se observa que está sendo contaminado, pode mudar o pensamento. Há certos momentos que não há por onde escapar, em certas situações. Procure diminuir porque senão aquele estado de associação vai crescendo cada vez mais. Se não há condições de sair da situação, procure não se revoltar. Porque cada vez que se revolta, fica mais contaminado. Então, procure aceitar e pouco a pouco, mudar, vigiar a mente, o pensamento. É uma coisa fácil, não há necessidade de se retirar, se isolar.
É importante seguir um único mestre?
Hoje, nesse mundo de globalização, encontrar um mestre é a coisa mais difícil. Não é um erudito, que sabe falar, mas não vive aquilo. Na atual situação do país, todo mundo fala bonito, mas está uma desordem danada! Existe um ditado: não se pode servir dois senhores, tem de servir um único senhor. Se você servir os dois, vai entrar em conflito. Existe dualidade; ou é isso ou é aquilo, certo? Pode ser um mestre que ensina apenas as coisas simples. Porque a verdadeira transmissão não vem da palavra, vem da freqüência da pessoa, da vibração. Cachorro e criança pequena sabem muito bem qual a intenção da pessoa.
Acredita em samadhi (iluminação)?
Todos nós somos muito imediatistas. Muitas pessoas que começam a praticar já querem atingir o samadhi, mas não há necessidade, nem condição de atingir esse estado de iluminação. Se você está insatisfeito, revoltado, irado, se você começa a sentir que está melhor, mais contente consigo, em sintonia coma natureza, já é um bom começo. Ao querer alcançar o ápice das coisas, você pode cair. É uma mudança que você vai fazendo, não só na hora da aula, mas 24 horas por dia. Esse é o ponto fundamental. Existem princípios segundo o Sutra de Patañjali, em que o asana (postura) vai aliviar o estado de tensão. É preciso trabalhar a mente, diminuir o estado de ira. Se você faz a postura, mas por dentro está revoltado, o asana ajuda, mas quando sair da postura, aí a coisa pega! Toda a prática de Yoga é espiritual: yamas (controle), niyamas (observância), asanas (postura), pranayama (técnicas respiratórias), pratyahara (abstração), dharana (concentração), dhyana (meditação) e samadhi. Tudo é uma mudança da mente. Integrar com a natureza e não dominar a natureza, o outro ser. É preciso tomar consciência e devastar menos.
O senhor é vegetariano?
Não sou muito de comer carne, mas se sou convidado para um churrasco, eu como. A pessoa tem de fazer uma comida especial para mim? É muito desagradável! Espiritual é relativo. Porque tem muita gente que come carne e tem bondade. Tem muito vegetariano aí que não tem bondade, porque a revolta não está fora, está dentro de si. Por exemplo, os esquimós têm de comer gordura. Cada país tem um tipo de alimentação. A verdadeira feijoada não é a que se come hoje e sim feita de joelho, rabo, orelha e língua, o mocotó. Hoje, se coloca paio, lingüiça, está tudo distorcido.
Como é o Yoga de hoje?
Hoje tem mais professores do que alunos. São muitas práticas e as pessoas não mais praticam como verdadeira tradição. Começam a inventar Light Yoga, Power Yoga, não sei o que lá Yoga, quando o Yoga é um só. Não tem essa divisão. Nós seguimos uma tradição do Kaivalyadhama, centro de pesquisa que existe na Índia desde 1924, em que todas as práticas e orientações são comprovadas cientificamente que têm efeito. Antes ligavam perguntando: “Professor, qual o horário da aula?”. Hoje ligam querendo saber que estilo que ensinam aí. Veja só!
Fonte: www.eyoga.com.br
Fotografia: capa do livro A Ioga do Mestre e do Aprendiz, de Shimada, editora Phorte.