domingo, 4 de maio de 2008

Judô - o esporte - arte de 126 anos


Data de Publicação: 4 de maio de 2008

Esta matéria tem a pretensiosa intenção de homenagear o Mestre Jigoro Kano, cuja morte completa hoje (4 de maio) 70 anos. José de Oliveira Ramos/Editor.

“O adversário é um parceiro necessário ao progresso. A vida da humanidade baseia-se neste princípio”. JK“A derrota na competição e no treinamento não deve ser uma fonte de desânimo ou de desespero. É sinal da necessidade de uma prática maior e de esforços redobrados”.JKEu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos. Modificar seus objetivos, que não eram voltados para a Educação Física ou para a moral, muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu, apesar de suas qualidades, tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar, o jujutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo jujutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo.- Jigoro Kano, em 1898, em uma de suas conferências.Nascido em 28 de outubro de 1860, em Mikage, prefeitura de Hyogo no Japão, terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionário da marinha imperial. Seus pais queriam que seguisse a carreira de diplomata ou político, mas Jigoro Kano preferiu o magistério, embora de personalidade marcante, possuía físico franzino, medindo 1,50 metros de estatura e pesando uns escassos de 48 kg, o que dificultava o seu ingresso na maioria dos esportes. Em 1871 com 11 anos de idade, foi mandado para Tóquio para estudar o idioma inglês, então indispensável para o progresso em qualquer sentido e que, possibilitou, mais tarde, tornar-se professor e tradutor dessa língua e ainda montar sua própria escola em Tóquio, a Kobukan (escola de inglês).Aos 16 anos, decidiu fortificar o corpo, praticando a ginástica, o remo e o basebol. Mas estes esportes eram demasiados violentos para sua débil constituição. Além disso, nas brigas entre estudantes, Kano era sistematicamente vencido. Ferido na sua qualidade de filho de um Samurai, decidiu estudar o jujutsu. Quem lhe ensinou os primeiros passos foi o professor Teinosuke Yagi. Posteriormente, em 1877, matriculou-se na Tenshin Shinyo Ryu, sendo discípulo do mestre Hachinosuke Fukuda. Em 1879, com a idade de 82 anos, Fukuda morreu, e Kano herdou seus arquivos. Tornou-se, em seguida, aluno do mestre Masatomo Iso, um sexagenário que possuía os segredos de uma escola derivando igualmente do Teshin Shinyo Ryu.Kodokan - Em fevereiro de 1882, Jigoro Kano inaugura sua primeira escola, denominada Kodokan (Instituto do Caminho da Fraternidade). A Kodokan estava localizada no segundo andar de um templo budista, Eishoji de Kita Inaritcho, bairro de Shimoya, em Tóquio, onde havia doze jos (jo medida de superfície, módulo de tatame). O primeiro aluno inscreveu-se em 5 de junho de 1882. Chamava-se Tomita. Depois vieram Higushi, Arima, Nakajima, Matsuoka, Amano Kai e o famoso Shiro Saigo (Sugata Sashiro). As idades oscilavam entre 15 e 18 anos. Kano albergou-se e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante. O jovem professor não tinha dinheiro e o shiai-jo media 20m², mas a escola progrediu e em breve tornou-se célebre.Técnicas - Jigoro Kano desenvolveu as técnicas de amortecimento de quedas (ukemis), bem como criou uma vestimenta especial para o treino do Judô (o judogui), pois o uniforme utilizado pelos cultores de jujutsu, denominado hakamá, provocava, freqüentemente, ferimentos. A nova arte do mestre tinha duas formas distintas: uma, abrangia as técnicas de queda, imobilizações, chaves e estrangulamentos. Essa forma evoluiu para o esporte e a outra parte consistia nas técnicas de golpear com as mãos e os pés, em combinações com agarramentos e chaves para imobilização, inclusive ataques em pontos vitais, atemi-waza. Essa forma evoluiu para a defesa pessoal, goshin-jutsu.Morte - Jigoro Kano nos legou vários manuscritos, nos quais em geral assinava com pseudônimos. Dentre estes, um muito usado por ele, era “Ki Itsu Sai” que quer dizer: tudo é unidade. Kano também era poliglota, pois falava quatro línguas, além do japonês, francês, alemão, inglês e espanhol. Lamentavelmente, a 4 de maio de 1938, morre Jigoro Kano de febre amarela, a bordo do transatlântico “Hikawa Maru”, quando voltava do Cairo, onde havia presidido a Assembléia Geral do Comitê Internacional dos Jogos Olímpicos. Não houve, para ele, tempo de assistir a Universidade do Judô, mas tinha certeza da sua perpetuação. “Quando eu morrer, o Judô Kodokan não morrerá comigo, porque muitas coisas virão a ser desenvolvidas se os princípios de minha arte continuarem sendo estudados”.

Cronologia

1860 – Nasceu em Mikage, Prefeitura de Hyogo em 28 de outubro. Terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, ele recebeu o nome de infância, Shinnosuke.
1873 – Entrou na Ikuei Gijuku, uma escola particular em Karasumori, Shiba, Tóquio. Recebeu instruções especiais em Inglês e Alemão de professores nativos.
1879 – Estudou o jujutsu na escola do mestre Masatomo Iso.
1881 – Formou-se pela Universidade Imperial de Tóquio, em Literatura, Ciências Políticas e Política Econômica. Estudou o jujutsu na escola Kyto-Ryu com o mestre Tsunetoshi Likugo.
1882 – Começou a dar palestras e, mais tarde, passou a professor em Gakushuin. Fundou a Kodokan. Terminou seus estudos de Ciências Estéticas e Morais.
1891 – Casou-se com Sumako, filha mais velha do então embaixador coreano, Seizei Takezoe, com a qual teve nove filhos: seis meninas e três meninos. Tornou-se diretor da quinta escola de segundo grau, na prefeitura de Kumamoto. Em abril é nomeado conselheiro do Ministro da Educação Nacional.
1897 – Demitiu-se da escola normal de Tóquio. Mais tarde, aceita seu cargo de volta. Criou a sociedade Zoshi-Kai e funda os institutos Zenyo Seiki, Zenichi, para a cultura dos jovens. Editou a revista “Kokusai”.
1901 – Tornou-se diretor da escola normal de Tóquio pela terceira vez. Nesta época, o Judô e o Kendô alcançam uma grande popularidade.
1907 – Fundou no Butokukai os três primeiros katás do Judô.
1909 – Tornou-se o primeiro japonês membro do Comitê Olímpico Internacional. Modificou os estatutos do Kodokan, tornando-o uma entidade pública.
1911 – Foi eleito presidente da Federação Desportiva do Japão.
1920 – Consagrou-se inteiramente ao Judô. E julho, assistiu aos Jogos Olímpicos de Antuérpia, visitando depois a Europa.
1932 – Deslocou-se aos Estados Unidos para assistir aos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Tornou-se conselheiro do gabinete de Educação Física do Japão. Participou por duas vezes no Conselho dos Jogos Olímpicos que lançara o convite para os jogos japoneses (1932-1934). 1936 – Assistiu aos XI Jogos Olímpicos de Berlim.
1938 – Esteve na Reunião do COI no Cairo, onde propôs que Tóquio fosse escolhida como sede dos XII Jogos Olímpicos. Morreu em 4 de maio, no mar, na viagem de volta. Recebeu a título póstumo o 2º Grau Imperial.

Atenciosamente,

Francisco Fernandes dos Santos Aoyama