segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Artes Marciais Dô no Brasil - Século XXI por Francisco Aoyama


Artes Marciais Dô no Brasil


     Quem tem mais de 30 anos, hoje em 2018, tem uma grande recordação de Icones das Artes Marciais como Bruce Lee, Família Gracie, Karatê Kid, JCV,  entre outros tantos. Contudo, a história das Artes Marciais Dô no Brasil, remetem a um passado mais distante, há mais de 100 anos atrás, oficialmente em 1908, quando deu-se a imigração Japonesa para o Brasil. A influência deste povo oriental foi intensa em todos os aspectos da vida brasileira, e nesta "mala" cultural estavam as Artes Marciais Dô. O País chegou a contar com numerosos Dôjos em diversas Acadêmias, o que levou o Brasil a uma respeitada posição no meio Artísitco Marcial. Mas o que aconteceu com este legado?
     A presença de Japoneses natos no país, e do desenvolvimentos de suas colonias, foi fator preponderante para a expanção da Artes Marciais Dô no Brasil, com uma força maior nos Estados brasileiros de São Paulo, Paraná, Mato-Grosso e Para.
     A disciplina, honra, respeito e hierarquia foram os pilares deste povo, que rapidamente começou a compartilhar este conhecimento, deixando verdadeiros clãs espalhados pelo Brasil, como Yanaguimori, Gracie, Ono, e muitos outros tantos. 
    No início as Artes eram ensinadas apenas com a missão de educar a população, de criar bons cidadãos, e de manter viva a cultura japonesa, entretanto com advento das Grandes Guerras Mundiais (PGM - de 1914 até 1918 e SGM - de 1939 até 1945) em especial a Segunda Grande Guerra, na qual Brasil e Japão atuaram em lados opostos, as Artes foram expressamente proíbidas em sua atividade, Academias foram fechadas, Dôjos incendiados, a dificuldade dos Mestres, de seguirem com seus trabalhos foram enormes, existem até relatos, de Dôjos secretos em porões, galpões...Consegue imaginar?
    Mas felizmente, estes mestres haviam sido treinados para nunca desistir, sempre levantar, ainda que caissem mil vezes, pois bem, assim foram forjadas as Artes Marciais Dô no Brasil, a transferência do Bushidô e a prática do Budô, tudo através destas Artes.
    Após o evento da Segunda Grande Guerra, as Artes retomaram seu posicionamento na sociedade brasileira, com a criação das Confederações e Federações de Judô, bem como, com a estreia da modalidade de Judô nos jogos Olímpicos de Tokyo, assim a Arte já tão conhecidade e praticada no mundo, devido ao excepcional trabalho de divulgação de seu criador Jigoro Kano, nos 30 anos anteriores, pode atrair também os "olhares" dos ambientes educativos, em especial algumas escolas e universidades. Abrindo campo para outras Artes Marciais Dô. 
  Muitas foram as tentativas de tirar a jurísdição do Judô e outras Artes, dos antigos Mestres e Senseis, com tentativas de colocá-las sob édito de cadeiras como Educação Física, e Filosofia, por exemplo. Os grandes Mestres nunca se preocuparam com isso, tendo em vista que, as Artes Marciais Dô são matérias empíricas, ou seja, modalidades onde a prática constante é fundamental, onde a liberdade filosófica e artística é ponderada pela disciplina  marcial, assim não é possível aprendê-las apenas em livros, é preciso praticá-las por toda uma vida.
   Com o passar dos anos, já se podia cobrar pelas aulas lecionadas, porém o valor cobrado sempre serviu de aparato básico, muitas vezes insuficiente para manutenção das academias, dos Dôjos. Tornando a mantença de um Dôjo um procedimento altruístico, em outras palavras, tronou-se quase impossível alguém viver financeiramente de um Dôjo, o que levou muitos mestres a uma jornada dupla de trabalho, muitas vezes em atividades diferentes, causando sequelas no processo.
   Uma saída encontrada foi a busca de parcerias públicas e privadas, as parcerias privadas funcionaram bem por um tempo, normalmente grandes empresas começaram a manter um Dôjo dentro de seus espaços desportivos, clubes e associações, outra forma de ajuda foi o patrocínio de muitos clubes desportivos associativos já existentes.  Já as parcerias públicas, tinham um alcançe regional maior, os projetos desenvolvido junto a equipamentos do Estado, como SESCs, Prefeituras, Parques desportivos, etc. funcionaram bem no papel, e fora dele por um curto espaço de tempo, bastava vencer um mandato e o projeto era reduzido, alterado, ou pior, simplesmente cortado.
   A dependência financeira dos Dôjos junto a orgãos público e privados, trouxe outro problema importante, a necessidade de apresentação de resultados competitivos, ou seja, para o projeto se manter vivo, era cada vez mais necessária a conquista de títulos. Essa tendência transformaria Senseis em técnicos, artistas marciais em atletas, cidadãos em egocentricos, tornando cada vez mais visível uma dialética dentro das Artes Marciais Dô, com muitos conflitos de interesse, muitas vezes fugindo do escopo, para o qual as Artes foram criadas.    
   A forma de vida atual, muito regulada pela mídia, pelo consumo, pela desigualdade social, tem apresentado 
novos desafios, dentre eles a reconstrução do espaço Artístico Marcial na sociedade brasileira atual. Os últimos anos após a Segunda Grande Guerra, demonstram que o país vem passando por transformações sociais, econômica e culturais, e tem se mostrado carente de valores tão presentes nas Artes Marciais Dô.
   Toda esta situação exposta, só podemos seguir na discussão e aplicação de novas polítcas de recolocação eficiente e sustentável das Artes Marciais em nossa sociedade, o momento é agora, e não devemos perder esta oportunidade. Grandes Mestres, Educadores, Professores e Intelectuais das Artes Marciais Dô tem se dedicado a pensar estas questões, afim de deixar um novo e verdadeiro legado para nosso país. Recentemente, muitos tem sido os intercambios entre Brasil e Japão, representados pelas Confederações e Federações nas pessoas de Senseis engajados nesta missão. A primeira conclusão é que devemos como cidadão participar do processo de mudança, lutando para colocar sob amparo legal a obrigatóriedade e presença das Artes Marcias Dô no currículo escolar do brasileiro, uma vez virando Lei, essa obrigação tornar-se-á Direito, e em muito pouco tempo como ocorreu em países como Japão, Coréia, China, França, Alemanha, dentre outros, serão os frutos colhidos.
Todavia, Como fazer isso? Qual nosso papel neste processo? O que você pensa sobre o assunto?


Aoyama, Francisco - Portugal 2018